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Marcas e gestos manuais que estão causando problemas
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Publicado em 02/01/2025

Um "risquinho" na sobrancelha. Um gesto feito com as mãos em uma foto. Traços simples do cotidiano custaram a vida de, pelo menos, três adolescentes no Ceará. Vítimas que tiveram a vida interrompida antes de chegar aos 18 anos. Eles foram confundidos com membros de facções criminosas por conta de símbolos apropriados indevidamente por estes grupos.

Em 18 de dezembro, Henrique Marques de Jesus, de 16 anos, foi encontrado morto na Vila de Jericoacoara. Ele estava em uma viagem com o pai, Danilo Martins. Membros de uma facção criminosa acreditaram que ele fazia parte de um grupo rival, após olhar fotos no celular do adolescente.

"As investigações apontam, até o momento, que os criminosos tiveram acesso ao telefone da vítima e, ao verificarem conversas e também algumas fotos, acreditaram que a vítima teria algum tipo de ligação ou era simpatizante de um grupo criminoso rival de origem paulista. Então, essa teria sido a motivação do crime", disse Márcio Gutiérrez, delegado geral da Polícia Civil do Ceará.

Henrique tirou fotos em que destacava três dedos nas mãos (polegar, indicador e dedo médio). No mundo do crime, o número "três" faz referência a uma facção cearense aliada ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Já o número "dois", está relacionado ao Comando Vermelho. O pai de Henrique afirmou que o filho não tinha conhecimento do significado do símbolo.

"Isso [símbolo que Henrique fez com as mãos nas fotos] é normal onde moramos. O moleque tinha 16 anos. Deveriam ter orientado: 'Aqui não pode fazer esse símbolo, é de outra facção', falado isso para ele ou qualquer outra pessoa que não tem ciência. Não fazer uma crueldade dessas, achando que um moleque de 16 anos era envolvido com facção", disse Danilo.

Apropriação dos símbolos

O professor Luiz Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, comentou sobre a apropriação de símbolos cotidianos da sociedade ao imaginário das facções criminosas.

“O que a gente tem observado aqui no Ceará é que esses símbolos têm sido usados para afirmação. A facção tem uma determinada simbologia, então ela usa determinados símbolos para afirmação desse lugar, dessa pertença ao grupo”, disse o pesquisador.

“Então, eles compõem uma identidade para o grupo e, obviamente, são símbolos que muitas vezes, você imagina, muitas pessoas fazem, o ‘V de Vitória’, mas acabou que esse símbolo se tornou símbolo de um grupo faccionado”, complementou o professor.

Luiz Fábio explicou que, muitas vezes, as pessoas sequer sabem que os símbolos estão associados a grupos criminosos. “Então, muitas pessoas, às vezes, fazem esse símbolo e não necessariamente estão associadas, mas o símbolo foi apropriado e, consequentemente, torna-se ali um elemento de identificação do grupo”, disse.

A intensificação dessas apropriações, inclusive, impactam a rotina social. “A gente, hoje, realmente precisa orientar os jovens para que eles, de fato, não tirem fotos com esse tipo de imagem que está associada ao grupo, mas, ao mesmo tempo, isso é um sinal de fracasso de uma sociedade, fracasso de um estado que não consegue efetivamente controlar a atividade criminosa”, avaliou o professor.

“Que tipo de sociedade é essa em que esse tipo de crime acontece? Como ele aconteceu? Então, isso é, de fato, assim, passa uma ideia de que, não só uma ideia, mas isso evidencia que a segurança no estado do Ceará, hoje, passa por problemas graves que precisam ser efetivamente discutidos”, destacou o docente.

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